A luz pela janela
Apesar de já ser tarde
e a rua vazia a essa altura da noite,
deixo a luz acesa
e a janela aberta
na hipócrita esperança
de que queira aparecer na madrugada
e deixar um boa noite.
Tolamente, acredito eu
que teletransportes
são abastecidos com força de vontade
e que da noite para o dia
todos os mal entendidos rotineiros
dissipam-se com algumas horas de sono.
Carburando meus pensamentos,
olhando pela janela aberta,
acredito ser de grande prova de amor próprio
admitir para mim mesma e para a noite
que "o que foi feito está feito"
e que nem sempre é recomendável voltar atrás,
como naquela velha e clichê história de ciclos viciosos.
É de extrema prova de amor
reconhecer-se piegas
e não envergonhar por admitir-se ser.
E depois de reconciliar comigo mesma,
carburar todas as ideias
compulsivamente sentimentais
que rondavam a minha mente
como as mariposas que rodeavam a lâmpada no teto de meu quarto,
deixei apenas uma fresta na janela,
para que assim eu pudesse vê-lo passar
e obrigá-lo a, dessa vez,
pedir permissão para entrar.